A alergia alimentar é queixa constante nos consultórios médicos.
Sintomas de alergia alimentar são mais comuns em bebês e crianças, mas podem aparecer em qualquer idade.
A pessoa pode ainda desenvolver uma alergia a alimentos que comeu durante anos sem problemas.
Como ocorre a alergia a um alimento?
O sistema imunológico, que é o sistema de defesa do corpo, deve combater infecções e outros perigos para a saúde.
Para isso, o sistema imunológico deve reconhecer o que é um material interno ou externo. E diferenciar, do que é externo, o que é amigo ou inimigo.
Quando o sistema de defesa reage ao que é interno, acontece uma doença auto-imune, como o lúpus eritematoso sistêmico.
Quando o sistema de defesa reage a um material externo inofensivo, como um alimento ou um medicamento, por exemplo, e identifica-o como um perigo, ele provoca uma resposta protetora, ou seja, acontece a alergia.
Na alergia, o corpo produz um anticorpo, chamado IgE, contra o alimento, agora chamado alérgeno.
A alergia não é uma doença hereditária, mas ter alguém na família com alergia aumenta a chance de acontecer.
Assim, é impossível prever se uma criança vai herdar alergia alimentar de um dos pais ou avós.
Algumas pesquisas sugerem que os irmãos mais novos de uma criança com uma alergia a amendoim também será alérgica a amendoim.
Alergia alimentar é diferente de intoxicação alimentar.
A alergia alimentar acontece por uma reação do corpo ao agente causador, que geralmente não é um microorganismo, mas uma proteína de algum alimento.
Na intoxicação alimentar, como dito acima, um microorganismo ou sua toxina agridem o corpo, gerando os sintomas.
As alergias alimentares mais comuns
Qualquer alimento pode causar uma reação alérgica, mas 8 tipos de alimentos somam cerca de 90% de todas as reações:
- Ovos
- Leite
- Amendoins
- nozes, pistache, amêndoas e castanhas
- Peixe
- Frutos do mar
- Trigo
- Soja
Certas sementes, incluindo gergelim e sementes de mostarda (o principal ingrediente na mostarda condimento), também são gatilhos alergia alimentar comuns e considerados grandes alérgenos em alguns países.
Síndrome da alergia oral
A síndrome da alergia oral, também conhecida como síndrome da alergia pólen-comida, é uma reação cruzada que pode ocorrer quando uma pessoa alérgica a pólen come determinados legumes, verduras ou frutas cruas ou algumas nozes.
As pessoas afetadas por esta síndrome podem normalmente tolerar os mesmos legumes, verduras e frutas após o seu cozimento porque as proteínas são modificadas pelo calor. Então, após o cozimento, o sistema imunológico não reconhece mais as proteínas do alimento como alergênicas.
Os alimentos que mais comumente desencadeiam esta condição são banana, melão, melancia, maça, pêssego, ameixa, cenoura, pepino, abobrinha, avelã e aipo.
Sintomas da síndrome de alergia oral
- Coceira na garganta
- Coceira na boca ou nos lábios
- Lábios, língua ou garganta inchados
Alergia alimentar após exercício físico
Alguns pacientes podem apresentar um tipo de alergia alimentar que só se manifesta quando pratica atividade física até 4 horas após ingerir o alimento ao qual tem alergia.
Nesta situação, a pessoa pode comer camarão, por exemplo, e não apresentar sintomas, a não ser que pratique algum exercício. Em casos mais severos, pode até sofrer uma reação anafilática.
Sintomas da alergia alimentar
Os sintomas de uma alergia alimentar podem variar de leves a graves.
Cada crise de reação alérgica pode ser diferente. Não é porque uma reação inicial foi grave que todas as reações serão semelhantes.
Por outro lado, um alimento que provocou apenas sintomas leves em uma ocasião pode causar sintomas mais graves em outro momento.
Os sintomas de uma reação alérgica podem envolver a pele, o trato gastrointestinal, o sistema cardiovascular e o trato respiratório.
Sintomas mais comuns de alergia alimentar:
- Formigamento ou coceira na boca
- Urticária, coceira ou eczema
- Inchaço dos lábios, face, língua e garganta ou outras partes do corpo
- Sibilos (asma), congestão nasal ou dificuldade para respirar
- Dor abdominal, diarreia, náuseas ou vômitos
- Tonturas, vertigens ou desmaios
- Anafilaxia
Anafilaxia e choque anafilático
A reação alérgica mais grave é a anafilaxia – uma reação alérgica severa e rápida caracterizada pela diminuição da pressão arterial, taquicardia e distúrbios gerais da circulação sanguínea, acompanhada ou não de edema da glote.
A anafilaxia tem maior risco de causar a morte quando ocorre o edema de glote, pois esse edema (inchaço) dificulta a respiração, por obstruir as vias aéreas.
A reação anafilática pode ser provocada por quantidades minúsculas da substância alergênica e pode ocorrer dentro de segundos ou minutos de exposição ao alimento gatilho.
Pode piorar rapidamente e ser fatal, por isso deve ser tratada rapidamente.
Sinais de reação anafilática:
- Constrição e aperto das vias aéreas
- Garganta inchada ou a sensação de um nódulo na garganta, que torna difícil para respirar
- Choque com uma severa queda na pressão arterial (choque anafilático)
- Rouquidão
- Pulso rápido
- Tonturas, vertigens ou perda de consciência
O tratamento de emergência com a aplicação de injeção de epinefrina (adrenalina) é fundamental para salvar a vida em um caso de anafilaxia.
Se não for tratada rapidamente, pode causar choque anafilático, coma ou até mesmo a morte.
Diagnóstico de alergia alimentar
Não há nenhum teste padrão usado para confirmar ou descartar uma alergia alimentar.
A alergia alimentar normalmente irá causar algum tipo de reação cada vez o alimento for ingerido.
A observação é o melhor teste diagnóstico!
Embora as alergias alimentares possam se desenvolver em qualquer idade, a maioria aparece na primeira infância.
Para fazer o diagnóstico, o médico precisa fazer algumas perguntas como:
- O que e quanto a pessoa comeu
- Quanto tempo demorou para que os sintomas aparecessem
- Quais os sintomas que a pessoa experimentou e quanto tempo eles duraram.
- Se há histórico de alergia alimentar na família
Depois, se necessário, o médico poderá solicitar um teste cutâneo ou um exame de sangue para IgE específico.
Os resultados desses testes podem auxiliar no diagnóstico. Mas um resultado positivo não indica necessariamente que exista alergia, embora um resultado negativo é útil em afastar essa possibilidade.
Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata
Skin-prick tests ou testes de picada de pele: um líquido contendo uma pequena quantidade do alérgeno alimentar é colocado sobre a pele do braço ou das costas.
A pele é perfurada com uma pequena agulha estéril, permitindo que o líquido penetre na pele e fique em contato com a pele por cerca de 24 a 48 horas.
O teste é considerado positivo se uma pápula (que se assemelha a uma picada de mosquito) surge no local onde o alérgeno suspeito foi colocado.
Como um controle, a pele também é picada com um líquido que contém histamina.
Essa picada provoca reação padrão, permitindo a comparação entre os locais de teste.
É um teste simples, rápido e pode ser realizado no próprio consultório do médico.
São 60% confiáveis em dar resultado positivo e 95% em dar resultado negativo. Isto é: podem até não acusar se um alimento é causador de alergia, mas raramente erram em dizer que um alimento não causa alergia.
Exame de sangue para alergia
Os exames de sangue para IgE específico são menos precisos que os testes cutâneos.
Numa amostra de sangue, mede-se o nível do anticorpo IgE a determinado alérgeno (alimento).
Os resultados estão normalmente disponíveis em cerca de uma semana.
Outros testes
Teste de provocação oral
O teste de provocação oral é considerado a forma mais precisa para fazer um diagnóstico de alergia alimentar.
Durante uma provocação oral, a qual é conduzida sob vigilância médica, o paciente ingere o alimento suspeito em doses crescentes, durante um período de tempo, seguido de algumas horas de observação para ver se ocorre uma reação.
Este teste é útil quando o histórico do paciente não é claro ou se os testes de pele ou sangue são inconclusivos.
Ele também pode ser usado para determinar se uma alergia foi superada.
Devido à possibilidade de uma reação grave, uma provocação oral deve ser conduzida somente por alergistas experientes em um centro médico especializado, com medicação de emergência e equipamentos em mãos.
Tratamento e manejo da alergia alimentar
Uma vez que uma alergia alimentar é identificada, o tratamento é mais eficaz é evitar o alimento causador.
É importante verificar cuidadosamente os rótulos de ingredientes de produtos alimentares, e saber se o alimento é conhecido por outros nomes.
Além dos produtos alimentares, produtos cosméticos, xampus e outros auxiliares de saúde e beleza podem conter extratos castanhas ou proteínas do trigo.
Pessoas alérgicas a um alimento específico podem também, potencialmente, ter uma reação a alimentos relacionados: a alergia cruzada.
Assim, deve-se ter cuidado com reação cruzada entre os vários tipos de castanhas, entre os frutos do mar (alergia a camarão pode reagir a caranguejo, por exemplo) e assim por diante.
Aprender sobre os padrões de reatividade cruzada e o que deve ser evitado é um bom motivo para procurar um médico alergista.
Os alimentos mais associados com alergia alimentar em crianças são:
- Leite
- Ovos
- Amendoins
As crianças podem superar as reações alérgicas a leite e a ovos, conforme crescem. Alergia a amendoim e a nozes e castanhas tendem a persistir.
Os alérgenos alimentares mais comuns em adultos são:
- Frutas e pólen vegetal (síndrome de alergia oral)
- Amendoins e nozes e castanhas
- Peixes e frutos do mar
A grande dúvida em quem tem alergia alimentar é se esta condição é permanente. Não há uma resposta definitiva.
As alergias ao leite, ovos, trigo e soja podem desaparecer ao longo do tempo, enquanto que alergia a amendoim, nozes, peixe e frutos do mar tendem a permanecer por toda a vida.
Anti-histamínicos e corticosteróides
Para uma reação alérgica leve, os anti-histamínicos, como a loratadina, podem ajudar a reduzir os sintomas.
Estas medicações podem ser tomadas após a exposição a um alimento que causa alergia para ajudar a aliviar a coceira ou urticária.
Em casos um pouco mais severos, o médico pode prescrever corticosteróides.
Enquanto os anti-histamínicos podem ser tomados, conforme necessário até por conta própria, os corticósteróides nunca devem ser tomados sem a devida prescrição médica por causa dos graves efeitos-colaterais.
Anafilaxia
Os sintomas causados por uma alergia alimentar pode variar de leve até a risco de morte.
A gravidade de cada reação é imprevisível.
Pessoas que tenham anteriormente sofrido apenas sintomas leves, de repente, podem experimentar uma reação com risco de morte chamada de anafilaxia, como já dito acima.
Anafilaxia é uma emergência e a pessoa deve ser levada imediatamente ao hospital.
Epinefrina (adrenalina) é o tratamento de primeira linha para anafilaxia.
A epinefrina deve ser usada imediatamente se tiver sintomas graves, tais como falta de ar, tosse repetitiva, pulso fraco, urticária, sensação de aperto na garganta, dificuldade para respirar ou engolir, ou uma combinação de sintomas de diferentes áreas do corpo, como urticária, erupções cutâneas ou inchaço na a pele juntamente com vômitos, diarreia ou dor abdominal.
Doses repetidas podem ser necessárias.
O alergista pode prescrever um auto-injetor de epinefrina (EpiPen, Twinject, Auvi-Q).
Este dispositivo é uma seringa e agulha combinadas que injeta uma dose única de medicação quando pressionado contra a coxa.
Os benefícios da epinefrina superam em muito o risco de uma dose desnecessária.
Atualmente, o auto-injetor de epinefrina somente é disponível para importação.
Este vídeo do fabricante, em inglês, mostra como deve ser o uso do auto-injetor de epinefrina.
Alergia alimentar pode ser prevenida?
Em 2013, a Academia Americana de Pediatria publicou um estudo que apoiou pesquisas anteriores sugerindo que a introdução de alimentos sólidos para bebês muito jovens poderia promover alergias.
Ela recomenda a não introdução de alimentos sólidos aos bebês com idade inferior a 17 semanas.
Ela também sugere que a criança seja alimentanda exclusivamente com leite materno “por tanto tempo quanto possível”, mas não chega a endossar a pesquisa anterior apoiando seis meses de aleitamento exclusivo.
O tempo de introdução de certos alimentos está também a ser investigado como um meio de prevenção.
A prática geral nos Estados Unidos e outros países ocidentais é o de atrasar a introdução de alimentos altamente alergênicos, como amendoim, nozes e frutos do mar, até depois de 3 anos de idade.
O tempo de quando introduzir alimentos permanece confuso e um tanto controverso.
Alergia ao leite e intolerância à lactose
A alergia e a intolerância são condições distintas.
Já falamos até aqui sobre a alergia.
Intolerância à lactose é a incapacidade do sistema digestivo em digerir a lactose, que é um açúcar principalmente encontrado no leite.
A lactose não digerida, ao passar pelo intestino, pode dar sintomas desagradáveis, tais como inchaço, diarreia e cólicas.
É um problema bastante comum e, infelizmente, não há tratamento que possa curá-lo.
No entanto, a pessoa geralmente pode controlar os sintomas tomando cuidado com o que come e bebe.